Há quem ouça o mundo com os ouvidos. Beethoven o ouviu com a alma.
Quando o som se apagou ao redor, restaram-lhe as vibrações do invisível — e delas ele fez sinfonias.
Na Quinta, ergueu o punho contra o destino. Quatro notas — ta-ta-ta-tam — como marteladas no ferro da vida. A música começa sombria, tensa, urgente… mas aos poucos, a noite se abre. A luta se transforma em vitória, e o homem vence a sombra que o persegue. É o som da resistência — o coração batendo mesmo quando tudo silencia.
Na Nona, o grito cede lugar ao canto. Surdo para o mundo, Beethoven já escutava o divino. O que antes era confronto, agora é comunhão. Ele convoca vozes humanas para cantar a Ode à Alegria, a celebração da fraternidade. Se na Quinta enfrentou o destino, na Nona reconciliou-se com o céu.
Entre uma e outra, Beethoven atravessou o abismo e descobriu a ponte.
A música, em suas mãos, deixou de ser som — tornou-se luz.
“A música é a revelação mais elevada do que toda a sabedoria e filosofia.” — Ludwig van Beethoven
@elianeschuchmann
Por Eliane Schuchmann – Colunista



