Drummond era mineiro raiz de Itabira, mas carioca de coração, viveu em Copacabana que inspirou grande parte de suas obras.
Ganhou uma estátua, símbolo afetivo no calçadão da praia, próximo ao Copacabana Palace, um marco emocional, que liga a obra literária de Drummond ao espaço urbano.
Há poetas que descrevem o mundo.
E há Drummond — que o confronta.
Seus poemas “No Meio do Caminho” e “José?” formam um conjunto de dois poemas emblemáticos: de um lado, a pedra, obstáculo que se repete; do outro, o vazio, a pergunta que ecoa quando tudo se desmancha. Entre ambos, está o humano — frágil, teimoso, sensível e profundamente real.
Esses poemas são tão atuais na Arte, pois obstáculos e crises não envelhecem. Porque a humanidade ainda tropeça e ainda se pergunta. Porque a poesia drummondiana é, antes de tudo, sensação: sentimos a pedra, sentimos o vazio de José, vemos o caminho interrompido, ouvimos o eco das perguntas.
A arte contemporânea dialoga diretamente com esses símbolos: entre a pedra que impede e a pergunta que fere, Drummond nos lembra que a vida não é linha reta: é curva, desvio e reinvenção.
No meio do caminho, tropeçamos.
E, agora, José?
Agora, seguimos- porque é no tropeço que a arte acende e no vazio que a poesia respira.
Drummond continua vivo porque continua palpável.
Porque todos, em algum momento, carregamos nossas pedras….
E todos já fomos um pouco José.
“No meio do caminho tinha uma pedra”.
@elianeschuchmann
Por Eliane Schuchmann – Colunista Seven Nine



